sábado, 17 de janeiro de 2009

O Bastão que fala

Sempre me impressiona o fato de vastos ensinamentos se desdobrarem quando nos permitimos aprender mais sobre itens, costumes ou o que quer que seja na cultura desse povo tão ligado à natureza, e que talvez por esse mesmo motivo pudessem sempre ver e sentir muito mais que nós em tudo que Deus criou, tudo no universo.
O "Bastão que fala" é um excelente exemplo. Um pedaço de madeira cheio de adornos utilizado principalmente nos conselhos e reuniões, seu princípio era o seguinte: nos círculos de participantes o detentor do bastão era o único com direito a falar, e não como uma forma de organização, mas pelo respeito de todos e cada um pela opinião do próximo, pela confiança na verdade das palavras que sempre representavam a intenção do melhor para o grupo, independente se seriam elas a apresentar as soluções esperadas, afinal, se a verdade e a boa intenção estavam nas palavras de cada um, direta ou indiretamente todas fariam parte do resultado final.


De posse do "Bastão que fala" cada um tinha a tranquilidade de falar com calma, abrindo seu coração despido de vergonha ou insegurança, sem se preocupar em responder algo ou ter seu raciocínio interrompido, o bastão era sempre acompanhado da "Pena da resposta", assim quando a pessoa que fala necessitar de uma resposta de alguem, a este lhe será dada a pena e o direito a falar. Extremamente simples, extremamente eficaz, extremamente educado e educativo.

E como disse antes, uma vez que tudo sempre representava mais que o óbvio, a história não para aí. Cada item do bastão tinha sua função e significado, a madeira deveria ser obtida conforme as qualidades e energia de cada "Pessoa em pé" (povo árvore). Por exemplo, o Pinheiro Branco é a Árvore da Paz, a Bétula simboliza a verdade, o Choupo símbolo da clareza na visão, pois seu tronco é coberto de formas que lembram olhos, o bordo usado para os conselhos das crianças pois representa a suavidade e doçura, o Olmo é sabedoria, o Carvalho é força, e assim por diante. Cada animal possui suas capacidades de cura, suas virtudes e fraquezas, sendo assim penas,peles e outros a serem utilizados necessitavam de muito estudo para reunir em um bastão todos os poderes para determinados objetivos.

A Pena da resposta muitas vezes era de Águia, representando ideais elevados, a verdade vista de cima e a liberdade de ser totalmente verdadeiro, ou do Peru, considerada a ave da Paz do Sul, provendo a atitude pacífica necessária para dirimir as disputas, e muito mais detalhes, cada um com seu significado e ensinamento.

Fácil de se entender como a educação das crianças era transmitida sem a necessidade de uma hora ou lugar determinado, mas sim no dia a dia, nos afazeres, na observação dos mais velhos, saber ouvir e saber falar na hora certa é um detalhe tão simples, e ao mesmo tempo virtude enormemente útil e apreciada.

Impossível deixar de lembrar, dos debates políticos que vemos na TV em época de campanha, e observando nossos governantes, pensar um pouco sobre a evolução da sociedade "civilizada".

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Jaime.

Gostei bastante do seu texto e da forma como aborda a história do "Bastão". Bem poética.

Gostaria de saber se o bastão foi criado pelos incas.

Abraços!

Anônimo disse...

E quando, rs.